COMPORTAMENTOS E O QUE SIGNIFICAM NO ALZHEIMER
A comunicação é uma via de mão dupla. Esta expressão, rotineiramente ouvida, não podia se enquadrar melhor quando se trata de pessoas com demência cognitiva. Este quadro vem afetando cada vez mais pessoas e estimativas da Alzheimer’s Disease International, federação que representa mundialmente mais de 85 entidades ligadas ao tema, mostram que as demências afetam mais de 47 milhões de pessoas no mundo, sendo que no Brasil são 55 mil novos casos por ano, a maioria decorrente de Alzheimer.
Voltando à reflexão sobre a frase inicial deste texto, quero dizer que a comunicação é mais simples quando se dá em circunstâncias “normais”, mas e quando uma das partes possui dificuldades de emissão e compreensão? Esta é a realidade de quem lida com pessoas com Alzheimer e outras demências. É crucial que se interprete de maneira diferenciada cada som e comportamento para que se tenha uma leitura da comunicação de maneira correta.
Podemos citar um exemplo onde a pessoa com demência relata não gostar da comida servida, mesmo que seja a rotineiramente oferecida a ele. A família ou cuidador pode se deixar levar por esta afirmação e tentar diversos pratos, temperos, e se frustar com a ausência de resultado, pois não consegue fazer a pessoa comer; quando, na verdade, ela pode estar com dor de dente, mas pelo quadro demencial perde a capacidade de se expressar com eficiência.
Este caso ilustra apenas uma situação possível, sendo que o propósito deste artigo é ajudar neste processo de comunicação, a fim de que haja uma assistência correta, poupando o sofrimento e desgaste na relação de cuidado. O importante é aprimorar a leitura que se faz do paciente, reconhecendo sinais e comportamentos que identificam sua verdadeira necessidade.
Interpretando a comunicação:
Comportamento | Possível Interpretação |
Se despir | É possível que deseje ir ao banheiro. Pode estar com calor ou as roupas não estão confortáveis |
Agredir, chutar ou morder | Pode ser uma tentativa de comunicar dor ou desconforto. Pode ser percebido como invasão de espaço pessoal, como quando se tenta realizar cuidados íntimos, ou ainda irritação por alguma restrição, perda de controle sobre a situação. |
Choro, medo ou retração | Provavelmente relacionado a um ambiente amedrontador. Pode sentir medo do banho pela sensação de que a água é profunda, p.ex. A mesma lógica serve para um tapete escuro, que pode levar a acreditar que é um buraco. |
Fuga, agitação | Pode ser devido a ansiedade, ou pode ter em mente algo a fazer ou algum lugar que acredita que deve ir. Eu preciso ir para o trabalho, buscar meu filho na escola, p.ex. |
Comportamentos Sexuais | Muitas vezes, pode entender mal o contexto, ou interpretar errado o propósito do cuidado pessoal. Pode ter um anseio por intimidade ou se sente carente emocionalmente. |
Tocar a face ou partes do corpo | Sinal de alerta para dor ou desconforto neste local. Se observa o comportamento de esfregar a região continuadamente. |
Existem maneiras efetivas de ajudar no processo de comunicação com alguém que apresente dificuldades em função de quadro demencial. Falar devagar, usar tom de voz amável, repetir quantas vezes for necessário, elaborar frases curtas e manter contato olho no olho são algumas formas de facilitar este processo. Cada pessoa se manifesta de uma forma, sendo que conhecê-la detalhadamente e observá-la no dia a dia auxilia na formação de um modelo base de comportamento e, posteriormente, na identificação de qualquer mudança deste.
Em cada estágio da demência, deve-se prestar atenção aos comportamentos, levando suas dúvidas à equipe clínica responsável pela assistência, de modo a prover o melhor cuidado a seu assistido.
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